O Mercado Brasileiro de Cruzeiros
ÁREA DE OPERAÇÕES INDUSTRIAIS 2 - AO2
GERÊNCIA SETORIAL DE TURISMO
Data: Junho/2000 No 17
BREVE PANORAMA SOBRE O MERCADO DE CRUZEIROS MARÍTIMOS
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1. Introdução
O Brasil é um dos países que apresenta excelentes condições naturais para o desenvolvimento do turismo marítimo, possuindo
um extenso litoral, com mais de 7 mil quilômetros, banhado pelo oceano Atlântico, além do seu clima tropical e de um cenário
natural favorável, os quais propiciam a prática desse tipo de turismo, que está em plena expansão em todo o mundo.
Cabe ressaltar, desde logo, que, apesar da vantagem comparativa proporcionada pelo cenário natural, o qual inclui, por
exemplo, praias, cachoeiras e montanhas, estas constituem-se, em realidade, commodities, também presentes em diversos outros
países.
O turismo marítimo vem crescendo em grande proporção, esperando-se que o número de passageiros no mundo, que em 1999 foi de
aproximadamente 6 milhões (com predominância de norte-americanos), alcance números ainda mais expressivos, neste ano.
Porém, a participação do Brasil e da América do Sul, em geral, no cenário mundial de turismo marítimo, é bastante reduzida,
se forem consideradas outras regiões muito menores, como o Caribe e a Espanha. O gráfico 1 revela que o turismo receptivo
marítimo no Brasil ainda possui uma preferência muito tímida.
Entrada de turistas no Brasil, por vias de acesso – 1997
Fonte: MICT/Embratur, Anuário Estatístico, p. 23, 1998.
2. Mercado global de cruzeiros marítimos
As viagens de cruzeiros marítimos encontram-se em pleno crescimento, no mundo, estimuladas, em parte, pelo aumento de demanda
por lazer dos últimos anos. Atualmente, 223 navios de cruzeiros realizam o transporte de 6 milhões de pessoas, em todo o
mundo, movimentando cerca de US$ 38 bilhões anuais.
Estima-se que até 2005 serão construídos mais 48 novos navios para cruzeiros marítimos, transportando, em média, 2.700
passageiros, por navio.
De acordo com os dados da Cruise Lines International Association (CLIA), o Caribe e as Bahamas conti-nuam sendo o principal
destino dos cruzeiros marítimos, com uma participação de 51% do total de passa-geiros que realizarão cruzeiros, neste ano.
A Europa e o Mediterrâneo seguem em segundo lugar, atraindo 15% dos turistas, seguidos do Alasca (7,5%), da costa pacífica
do México (6,8%), da costa oeste dos Estados Unidos da América (4,9%), do Canal do Panamá (2,8%), do Canadá e da Inglaterra
(2,2%), e as Bermudas, com 1,8% do total.
No Caribe e na Flórida há 26 embarcações de grande porte em operação, que transportam mais de 33 mil passageiros em
cruzeiros de 7 a 10 dias, em média, gerando empregos diretos para 15 mil pessoas1. Além dos empregos nas embarcações e nos
pontos de atracação - ilhas privativas, ancoradouros especiais, bares, restaurantes, shopping centers etc., existe toda
uma indústria de suporte à atividade, gerando ainda mais empregos e renda, a exemplo do suprimento de alimentação, de
têxteis e de mobiliário2. A título de exemplo, pode-se citar alguns dados de consumo de víveres no navio Grand Princess,
o maior do mundo (300 m de comprimento, 50 m de largura e 8,5 m de calado): 480 kg de bananas, 100 kg de sal, 160 kg de
cenouras, 800 kg de filé mignon, 450 kg de sorvetes e 400 ostras, entre outros, são consumidos diariamente pelos seus
2.600 passagei-ros e 1.100 tripulantes.
A CLIA prevê, ainda, que até o final de 2000 os cruzeiros marítimos transportarão cerca de 6,5 milhões de passageiros, em
todo o mundo, o que representará um crescimento da ordem de 8,3%, comparativamente a 1999.
Em 1999, os cruzeiros marítimos, com duração de 3 a 4 dias, foram os que obtiveram maior crescimento (cerca de 19,6%),
relativamente a 1998, podendo-se presumir, naquele ano, uma preferência dos turistas por cruzeiros de curta duração. Ainda
em 1999, observaram-se incrementos nos cruzeiros de 18 dias ou mais (13,4%), nos de 9 a 17 dias (11%), e naqueles de 6 a 8
dias (1,3%).
Podem ser identificados, como fatores causais desse crescimento, a expansão significativa da atividade econômica nos Estados
Unidos da América (EUA), país responsável por grande parte da demanda de passageiros dos cruzeiros, e as campanhas de
marketing realizadas pelas empresas, especialmente na Europa e EUA.
Os cruzeiros marítimos são equiparados, na visão mercadológica, a um resort flutuante, devido aos diversos serviços e
atividades de lazer oferecidos, como aulas de ginástica, infra-estrutura aquática (piscina) e outros esportes. Os atrativos
noturnos são variados, podendo ser destacados os bares (com música ao vivo), teatros e cassinos, além da realização de
festas.
A procura por novos destinos turísticos, aliada ao fato de os navios utilizados para cruzeiros marítimos contarem com uma
ampla infra-estrutura de serviços, estão motivando, cada vez mais, os turistas a optarem por uma viagem de cruzeiro, na
qual a diversão é a palavra-chave desse negócio. A Carnival, maior companhia de cruzeiros marítimos do mundo, serve como
exemplo dessa tendência, tendo em seu slogan a expressão Fun Ships, que significa "Navios Divertidos", ou seja, os turistas
podem optar por lazer e divertimento, seja no próprio navio ou em suas escalas.
Tomando por base uma pesquisa realizada nos Estados Unidos da América, verifica-se que o perfil dos passageiros de cruzeiros
marítimos, em sua grande maioria, é definido por pessoas casadas, e que, além disso, o número de mulheres é superior ao dos
homens, como pode ser observado na tabela 1.
Perfil dos passageiros de cruzeiros marítimos (EUA)
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Perfil dos passageiros
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%
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Menos de 40 anos
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27
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Entre 40 e 59 anos
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45
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Mais de 60 anos
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28
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Homens
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46
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Mulheres
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54
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Casados
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73
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Média de ingressos anuais/passageiro
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US$58.8 mil/ano
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Fonte: Gazeta Mercantil S.A., 19-7-1999.
3. O mercado de cruzeiros marítimos no Brasil
A maior parte dos cruzeiros marítimos são realizados no Caribe e na costa norte-americana, e a participação da América do
Sul, incluindo o Brasil, ainda é bastante reduzida. O Brasil, porém, possui um elevado potencial para o fomento desse
segmento, haja vista que dispõe, com as ressalvas já citadas anteriormente, de vantagens comparativas (diversidade de
atrativos naturais), além do fato de o mercado de cruzeiros marítimos no Caribe já apresentar alguns sinais de saturação.
O país conta, ainda, com a vantagem de o inverno no Hemisfério Norte, onde se concentra a maioria dos roteiros de viagem dos
transatlânticos, corresponder ao verão brasileiro, permitindo, assim, atender a demanda das empresas de cruzeiros, nesta
época. Além disso, para as empresas, a economia de custos é maior estando os navios em curso, ao invés de atracados ou
fundeados, pois um navio atracado pode resultar, por exemplo, um prejuízo diário da ordem de US$ 100 mil.
A liberação da navegação de cabotagem, para as embarcações de bandeira estrangeira, do transporte de passageiros, a partir
da promulgação da Emenda Constitucional nº 7, de 15-08-1995, a qual alterou o Art. 178 da Constituição da República
Federativa do Brasil, contribui para a expansão desse segmento no Brasil, pois, anteriormente, aos navios estrangeiros
era permitido apenas o embarque de passageiros em algum porto brasileiro, com a finalidade posterior e exclusiva de
transporte e desembarque em algum porto estrangeiro. Apenas a título de exemplo, até então não era permitido a esses
navios cumprirem a rota Rio de Janeiro - Santos, com embarque em porto nacio-nal, e posterior desembarque em outro porto
nacional.
Considerando-se que as empresas de cruzeiros marítimos determinam os seus roteiros de viagem com dois anos de antecedência,
pode-se afirmar que somente em 1997 elas puderam sentir os efeitos da liberação da navegação de cabotagem, e, portanto,
a partir de então, passaram a manter uma presença maior nas águas territoriais brasileiras. Na tabela 2 são apresentados
alguns dados concernentes ao segmento de turismo marítimo no Brasil.
Comportamento do turismo marítimo (Brasil)
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Temporada brasileira
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1997/1998
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1998/1999
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1999/2000
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Cruzeiros
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17
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18
|
17
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Minicruzeiros
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5
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12
|
5
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Fretamentos
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6
|
9
|
4
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Total
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28
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39
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26
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Fonte: Costa Cruzeiros/Gazeta Mercantil S.A., 16-5-2000.
Entre as companhias globais de cruzeiros marítimos, a empresa italiana Costa Crociere, que, no Brasil, é conhecida como
Costa Cruzeiros, possui a liderança de mercado na América do Sul e no Mediterrâneo.
O número de turistas que embarcaram no Brasil, na temporada 1998/1999, foi de 20 mil, enquanto no período 1999/2000 esse
número declinou para 15 mil passageiros. Essa diminuição no número de passageiros pode ser atribuída, principalmente, à
mudança cambial ocorrida no país, em janeiro/1999, já que as passagens de cruzeiros marítimos são cotadas em dólar
norte-americano, e, também, pelo fato de a temporada 1998/1999 ter sido mais longa que a atual, indo até a Páscoa.
A Costa Cruzeiros encontra-se classificada em quinto lugar no ranking das maiores companhias de cruzeiros marítimos,
chegando a embarcar 305 mil pessoas anualmente, com expectativas de aumentar esse fluxo para 600 mil pessoas até 2002.
A empresa possui escritórios no Rio de Janeiro e em São Paulo, além de contar com outros 14 representantes distribuídos
pelo país. Entretanto, a maior parte das vendas, entre 80% e 85%, provêm das agências de viagem.
4. Tendências do mercado de cruzeiros marítimos
Os eventos e convenções realizados ao longo de cruzeiros marítimos consti-tuem, para as empresas do segmento, uma outra
alternativa de negócios, ocupando, atualmente, cerca de 10% da oferta de cabines. Esses cruzeiros corporativos (são assim
denominados) movimentam anualmente cerca de R$3,8 milhões, estimando-se, ainda, que esse número triplique até 2003.
No Brasil, a realização de eventos ou convenções, em cruzeiros, constitui-se em uma atividade relativamente nova (cerca de
4 anos), tendo, em 1999, apresentado uma pequena retração, decorrente, basicamente, da mudança cambial, já que seus valores
são cotados em dólar norte-americano (as diárias, por passageiro, oscilam entre R$200,00 e R$300,00). Espera-se, porém,
que em 2000 haja um reaquecimento do turismo marítimo para eventos.
Deve ser destacado, também, como uma novidade nesse mercado, a oferta de passeios turísticos a bordo de helicópteros,
representando um novo serviço opcional disponível aos passageiros de cruzeiros marítimos. No porto do Rio de Janeiro, o
Pier Mauá, concessionário do porto, tem oferecido esse tipo de serviço desde o início deste ano, com roteiros aéreos que
variam de 8 a 10 minutos, e preços que oscilam entre R$130,00 e R$500,00.
5. A participação dos portos
As operações portuárias constituem-se em um dos principais problemas que afetam o desenvolvimento do mercado de cruzeiros
marítimos no Brasil, seja em função das tarifas portuárias praticadas, seja por falta de uma infra-estrutura adequada.
Esses óbices acabam por retirar o Brasil do planejamento de rotas dos navios de cruzeiro marítimo, ou mesmo diminuir as
suas estadas. A melhoria da logística portuária, que agilize, por exemplo, a operação de desembarque de turistas nos portos
brasileiros, é essencial.
Para algumas empresas operadoras de cruzeiros marítimos, a infra-estrutura dos portos nacionais não representa o único
problema, mas, também, as obrigações tributárias e tarifárias, o que estaria justificando um incremento na operação dessas
empresas em países considerados paraísos fiscais, como o Panamá.
Os principais portos do país, como o de Santos e o do Rio de Janeiro, servem de paradigma, no que concerne ao problema das
tarifas cobradas. O porto do Rio de Janeiro cobra cerca de R$ 30 mil para embarque e desembarque, valor este bastante
superior ao praticado, por exemplo, em portos europeus. No porto de Santos, são cobrados cerca de R$ 43 mil para a
atracação de navios, e, devido a essa diferença nas tarifas, o porto do Rio de Janeiro está atraindo aqueles navios
que antes aportavam em Santos.
6. Considerações finais
Uma alternativa aos problemas acima elencados, reside na construção e/ou adequação de terminais especialmente voltados
para o turismo marítimo, apropriados para operações com navios de cruzeiro, evitando-se, assim, problemas de
congestionamento de navios, e facilitando o acesso dos turistas à região abrangida pelo porto. Em relação aos portos
de pequeno porte, a solução estaria na reformulação total de suas infra-estruturas, priorizando, com isso, os
transatlânticos, e tornando desnessárias as baldeações atuais, usualmente realizadas quando um navio desse porte
atraca nesses portos.
Deve ser destacado, assim, o enorme potencial relacionado a "todos os projetos do Portfólio de Investimentos Privados
Associados ao Prodetur que se destinam a receber turistas em viagens de lazer – Cidade-Resort Planejada, Centro
Litorâneo de Entretenimento, Terminal de Cruzeiros e Resort Destino"4.
Sob esse enfoque, e considerando-se, por exemplo, as localidades turísticas estratégicas compreendidas no litoral da região
Nordeste, ora abrangidas pelos investimentos do Programa de Ação para o Desenvolvimento Integrado do Turismo - Prodetur,
há que se pensar, em termos de planejamento regional, que "ao lado do conjunto de investimentos em infra-estrutura
hoteleira e em serviços, que também será utilizado pelo turista que vem de avião, os portos nordestinos deveriam examinar
a possibilidade de construir terminais especializados para navios de cruzeiro"5, propiciando, portanto, as condições
neces-sárias para a transformação da região Nordeste (sem prejuízo do Sul e Sudeste) em ponto de convergência de
cruzeiros marítimos para o Atlântico Sul.
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